Percepções de uma realidade costumeira. Antes de qualquer coisa é estar conectado a um mundo a parte. Sentir-se fora da cidade. Estar longe. Á parte. O que é comum aqui, causa estranheza em um morador do centro da cidade, ou de bairros mais próximos. A violência noticiada com alarde na televisão, aqui não passa de rotina, só mais um cadáver na pista, só mais um jovem que foi pelo caminho errado. Normal. Essa é a sensação. Não há estranheza, não há luto. Há revolta, desesperança, sede de justiça e vingança, principalmente. Pois a justiça tarda, então façamos com as nossas próprias mãos. Seja excluindo pessoas do convívio, seja agindo com mais violência. A lei é outra, a realidade é outra. O privado é constantemente agredido, não há limites, seu vizinho pode passar toda a noite festejando em alto e bom som, e nada o faz parar. Entre você e seu vizinho é tão perto que podem um ver o cotidiano do outro. Seu muro pode ser pichado e você não reaje a isso, somente pinta de novo, melhor estar em silêncio, senão pode ser pior. Sim, os jovens, são eles os que causam tudo isso... supostamente. Expulsos de escolas, abandonados pela família, negligenciados pela sociedade, agredidos pela policia, viciados e mortos pelo trafico. São alguns que conseguem um emprego, passei a notar como tinham pessoas circulando num bairro popular durante um dia de semana, fiquei a me perguntar porque aquelas pessoas não estavam estudando ou trabalhando? Quais seriam suas ocupações, sendo que passavam todo o dia a circular? Pergunta simples. Respostas nem tão simples assim. Jovens que são identificados pelo que vestem, pelo comportamento desleixado, por andarem em grupos. Surfam em ônibus, vão a praia, fazem arruaça, pagode, hip hop, funk... São outras coisas sutis, como a hora que você pode voltar pra casa, em que ruas você pode andar ou não, quem você pode deixar entrar em sua casa para prestar um serviço. São os códigos, implícitos ou explícitos, sempre presentes. Exposto pela mídia sensacionalista, o mundo do crime tem ganhado com divulgação dos seus feitos, os jovens fazem uma analise simples, visando fugir da realidade dura que os rodeia, pais desempregados, embriagados, trabalhando muito em subempregos, mal-remunerados, pais abusadores e agressores, sempre marcados pela pobreza, sem esperar por dias melhores. É claro que é muito mais simples entregar produtos, do que passar todo o mês trabalhando por um misério salário, o trafico os atrai com simples tarefas e grandes benefícios, mas logo se vêem presos pelo vício, dívida ou em briga de ganges por território. O traficante disfarçado de benfeitor da comunidade, ou liderança, ou nem assim, claramente mostrado pelo terror que espalha no lugar onde atua. Eles estão sempre presentes, mas não se vê a cara deles na rua, só os jovens. Poderia dizer excluídos, marginalizados, condenados a sua própria sorte, mas não é a verdade, é muito mais complexo que parece. A vida nos dá sempre escolhas. Á alguns, as escolhas são mais difíceis. Como uma família com 8 garotos e uma mãe solteira á lavar roupa para pôr o feijão em casa, mesmo que ela os ensine o caminho honesto, será muito difícil que não sejam seduzidos por convites a um caminho mais fácil. Onde estão as oportunidades? Não que isso justifique, mas é algo para pensar. Tantas dificuldades...
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